A Unidade da Igreja de Cristo


Certamente não há vários corpos de Cristo, mas apenas um. Também só há um Espírito, só um Senhor, só um Pai. O problema é nós enxergarmos isso diante do panorama que vive o Cristianismo hoje. Esse panorama parece uma nuvem que dificulta a nossa visão.

Um cristão é um seguidor de Cristo. Entretanto, para os evangélicos parece muito claro que os seguidores de Cristo são os que tiveram a experiência de serem iluminados por Deus a respeito da sua condição de perdição quando estavam sem Ele. Naquele momento, se arrependeram e aceitaram a salvação de Deus. A sua condição então mudou de afastados de Deus para comprados pelo precioso sangue de Cristo. Para os católicos, pelo menos às vezes parece que essa experiência não é condição "sine qua non" para ser um seguidor de Cristo.

Este é apenas um exemplo de diferença de doutrina entre pessoas que se confessam cristãs. Essa diferença exposta acima é tão fundamental que realmente ficamos com dificuldade de ver como poderia haver unidade num contexto assim.

Sendo assim, como o Senhor, o dono, o responsável pela igreja vê a unidade? Segundo Ef 4, um dos trechos bíblicos que fala sobre o assunto, a unidade é do Espírito (v. 3). Católicos, evangélicos e ortodoxos parecem pensar que o que determina se alguém faz parte do corpo de Cristo é a doutrina. Afinal, se a igreja não conhecer a verdade e não proclamar a verdade, como ela pode ser a manifestação, o corpo de Cristo na terra? O problema é que as doutrinas, como são muitas diferentes, são versões humanas da verdade. Se fossem a versão divina, obviamente seria apenas uma. Outro problema: se são várias versões da verdade, apenas uma é verdadeira. Talvez até, nenhuma das que são professadas seja a tal verdadeira.

Amados, as doutrinas são conjuntos de ensinamentos. O objetivo delas é levar as pessoas à verdade, mas elas não são a verdade. O Senhor disse que Ele é a verdade (Jo 14:6). As doutrinas não tem peso suficiente para levar os irmãos a se separarem. A resposta à pergunta é: todas as pessoas que são de Cristo formam o corpo de Cristo.

É claro que essa resposta suscita imediatamente a pergunta: e qual é precisamente a definição de "ser de Cristo"? Quem é legitimamente "de Cristo", uma vez que temos doutrinas diferentes entre os irmãos a respeito disso? Opa! Nuvem de novo! A questão é que: quando usamos a doutrina, o ensinamento para praticarmos as palavras ensinadas e sermos levados até o nosso Senhor, que é a verdade, este é o uso legítimo. Quando as usamos para tentarmos controlar a experiência com Deus, sistematizando-a em um conjunto de verdades, de modo que possamos dizer que uma coisa é verdade e a outra é mentira, esse uso anuvia a verdade. Na prática, quando o homem tenta controlar qualquer coisa entra a ambição, a inveja e todo tipo de pecado para anuviar a questão.

Nós não temos pureza suficiente para controlar a verdade, por isso ela foge ao nosso controle. A verdade é Cristo (se alguém buscar a verdade de todo o coração, ele vai encontrar Cristo). A verdade está expressa na Bíblia. Mas a verdade não pode ser controlada por nós.

Se alguém que lê isso tem experiência de igreja, vai perguntar: então, cada um faz o que quer? Não há nenhum controle? Sim, há. Mas não é do homem, é do Senhor da igreja. Não adianta o homem tentar sistematizar o controle. O único jeito é humilhar-se e buscar o Senhor. Se alguém que está em posição de supervisão não fizer isso, a Bíblia é clara em dizer que esse alguém vai prestar contas.

Amados, na visão de Deus, somos um no Espírito.
O Senhor abençoe a todos,
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Parte II
A Visão da Igreja

No artigo “A Unidade da Igreja de Cristo (parte I)”, vimos que o Corpo de Cristo é formado por todas as pessoas que são de Cristo. Vimos também que o Cristianismo está atualmente dividido em diferentes grupos, separados principalmente por causa de suas diferentes doutrinas. As doutrinas são ensinamentos destinados a nos levarem à verdade, que é o próprio Senhor Jesus. Elas também são usadas ilegitimamente para criar um controle humano sobre a experiência dos cristãos com Deus. O resultado desta distorção é a separação daqueles que constituem o corpo de Cristo em diversas facções.

Falta-nos agora ver que solução o nosso Senhor – que não está assistindo a tudo parado – está proporcionando para aqueles que o buscam. Sabemos que a vontade de Deus para o seu povo é que sejam um (Jo 17: 22 até o final do capítulo).

Em primeiro lugar, como eu já havia dito, quando queremos conhecer a verdade precisamos tomar os ensinamentos, as doutrinas. Mas elas não são a verdade em si. A verdade é Cristo. Deus é luz – a luz nos possibilita ver. Ver a nossa condição interior e ver o que está à nossa volta. Quando recebemos a Deus como luz, temos a experiência da verdade. Não é fácil explicar esse conceito, mas quem já experimentou este fato, pode reconhecê-lo nessa descrição simples.

Sendo assim, para conhecermos a verdade precisamos orar algo parecido com: “Amado Senhor, eu desejo abrir o meu interior, o meu coração para o que o Senhor deseja falar. Ajuda-me a recebê-lo sem reservas e ver o que o Senhor quer mostrar”. O contrário disso é ler um artigo como esse em busca de argumentos a respeito da verdade. Como eu expunha no artigo anterior, temos motivos para duvidar da pureza dos nossos argumentos.

Visto este primeiro ponto, será que é possível praticarmos a unidade? Num âmbito conceitual, a unidade precisa vir da submissão. Temos dois exemplos: o de Cristo que “tornou-se obediente até a morte” (Fp 2:1-11) e o de Satanás que se exaltou até o ponto de querer ser igual a Deus (Is 14:12-14). Ao submeter-se, Cristo destroçou a rebelião de Satanás, ajustando todo o Universo, que virá ao fim submeter-se a Ele por completo (Fp 2:10 e Ef 1:20-23).

Ao examinarmos a história da igreja, logo no seu início já a vemos criar partidos – uns de Paulo, outros de Apolo, outros de Cefas e outros de Cristo em Corinto (1Co 1:10-13); os judaizantes em Jerusalém (At 15) e depois outros. O processo pode ser parecido para todos: uma idéia se levanta de que os que lideram estão errados, alguns aderem, forma-se um movimento. Este movimento pode evoluir mais ou menos, vindo a se separar ou não. Após 2000 anos acontecendo isto temos a situação atual.

Notemos então, o que costuma ser o início de uma separação: um conceito sobre o que é certo ou errado. Esse paradoxo acontece porque tanto o certo quanto o errado pertencem à mesma árvore: a árvore do conhecimento do bem e do mal. É estranho que buscar o bem e rejeitar o mal possam nos levar a fazer o contrário da vontade de Deus, mas a Bíblia é bem clara sobre esse assunto. Caim, por exemplo, começou a situação que o levou a matar o seu irmão quando foi tentar agradar a Deus com uma oferta. No capítulo 7 de Romanos, Paulo explica que o homem ama o bem, mas encontra em seus membros uma “Lei” que o obriga a praticar o mal que odeia. Desta forma, não podemos confiar em nossas boas intenções ou no fato de estarmos certos.

Vemos então que, por causa do pecado que está no interior do homem, o corpo de Cristo se dividiu em muitos partidos. A mesma ambição e rebelião que são descritas no anjo de luz que se tornou o adversário de Deus moram em nós e contaminam até mesmo aqueles que foram lavados pelo sangue de Cristo e estão participando da edificação da sua igreja.

Mas tenhamos bom ânimo! As portas do Hades não prevalecerão contra a igreja (Mt 16:18)! Nem mesmo o ataque mais furioso de Satanás poderá vencer o Senhor.

Na história da igreja vemos que o Senhor sempre proporciona uma restauração usando aqueles que estão apercebidos, que vigiam, que oram, que o buscam, que querem segui-lo. Vemos também nas cartas às sete igrejas da Ásia nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse que o Senhor chama vencedores até nas igrejas em que a situação está mais difícil (na igreja em Tiatira, por exemplo, ensinamentos deturpados levaram alguns à idolatria com fornicação!).

O Senhor está edificando a sua igreja. O que nos cabe é segui-lo (Mt 16:24). Para isso precisaremos negar a nós mesmos para estarmos apercebidos, para orarmos. Às vezes dizemos que nos reunimos em determinado lugar porque lá encontramos pessoas que combinam socialmente conosco. Talvez estejamos nos reunindo com irmãos que nos ajudaram, ou que nós tivemos oportunidade de ajudar. Alguns de nós podem até conhecer muito sobre as doutrinas e estarem convencidos de que a sua denominação possui uma boa doutrina. Obviamente estes motivos não são errados em si mesmos. Entretanto, o Senhor tem uma vontade eterna, que Ele vai cumprir e essa vontade é de ter a sua igreja.

Vou usar o meu exemplo: eu nasci na Igreja Presbiteriana. Lá eu conheci o Senhor, me entreguei a ele, tive comunhão com os irmãos e fui ajudado a buscar o Senhor dia a dia. Um dia o Senhor me perguntou (não numa situação de honra para mim): você está na edificação da igreja Presbiteriana? Eu muito tenho sofrido depois que ouvi esta pergunta, mas o Senhor não me deixou escolha. Não obstante eu amar a igreja Presbiteriana, e principalmente os irmãos que lá se reúnem; não obstante eu poder testemunhar de que é uma boa igreja, eu não consigo mais buscar a edificação da igreja Presbiteriana. Eu preciso buscar a edificação da igreja, da única igreja.

Todos os irmãos que estão em uma determinada localidade são a igreja naquela localidade. No Novo Testamento havia a igreja em Jerusalém, a igreja em Atioquia, a igreja em Éfeso, a igreja em Corinto, etc. Quando Paulo se referiu à Galácia, uma região com muitas cidades, ele disse "às igrejas da Galácia". Esse é o limite do Senhor. Se eu estiver em uma mesma cidade que outro irmão, ambos pertencemos à igreja naquela cidade. Pode ser que o irmão tenha me ofendido gravemente. Pode ser que ele seja prepotente e não peça perdão. Pode ser que ele me tenha lesado financeiramente, como aconteceu em Corinto. Entretanto não é possível ele estar em outra igreja. Não há duas igrejas.

Se você me disser: eu não quero sair de onde estou porque tenho buscado o Senhor de coração e o Senhor tem se mostrado para mim. Tenha paz, amado irmão.Você e eu precisamos nos reunir onde o Senhor nos levar a reunir e não onde a nossa preferência ou conveniência determinarem. Nesse lugar sentiremos paz no coração, que é o sinal de que estamos com o Senhor. Em cada cidade, o Senhor está providenciando irmãos que dão o testemunho da unidade estabelecendo uma mesa para partir o pão e beber o vinho, em que todos os que são do Senhor naquela cidade são convidados. Se você se encontrar com esses irmãos e o Senhor o chamar para se reunir lá, seja fiel. Caso contrário, seja fiel também, em amar a todos os irmãos, pois todos formamos o mesmo corpo, o corpo de Cristo.

Bruno Spadoni.

Cristão, um Tipo Esquisito.



"Um cristão verdadeiro é uma pessoa estranha em todos os sentidos.
Ele sente um amor supremo por alguém que ele nunca viu; conversa familiarmente todos os dias com alguém que não pode ver; espera ir para o céu pelos méritos de outro; esvazia-se para que possa estar cheio; admite estar errado para que possa ser declarado certo; desce para que possa ir para o alto; é mais forte quando ele é mais fraco; é mais rico quando é mais pobre; mais feliz quando se sente o pior.
Ele morre para que possa viver; renuncia para que possa ter; doa para que possa manter; vê o invisível, ouve o inaudível e conhece o que excede todo o entendimento.
(A. W. Tozer)